A recreação é, comumente, apresentada de maneira ligada à área de lazer, quase como se o binômio "recreação e lazer" possuísse um significado único. Isto talvez ocorra por ambas as áreas possuírem características comuns como o componente lúdico, a busca da satisfação pessoal, a flexibilidade nas regras. Mas recreação e lazer não estão restritos um ao outro, embora muitas vezes encontraremos vivências que pertencem às duas áreas.
Podemos apontar casos como a ação de ler um livro, degustar um bom vinho, visitar uma exposição de pinturas, de flores, ou de carros, ouvir música, ir a uma festa, conversar com os amigos ou frequentar redes sociais, entre muitas outras, que podem se caracterizar como atividades de lazer, sem que sejam, por definição, atividades recreativas.
Igualmente podemos encontrar uma gincana cultural ocorrendo em meio a uma aula escolar, um concurso de leitura, uma visita guiada a um museu, um outdoor training gerencial de uma empresa, entre outras, que podem se caracterizar como atividades recreativas, sem que sejam atividades de lazer.
O que diferenciam estes exemplos daqueles é que os primeiros ocorrem em horários descompromissados, tempos livres, disponíveis, onde não há tarefas obrigatórias por se fazer. São atividades do universo de escolhas do indivíduo, onde ele participa, sozinho ou em grupos, de atividades que escolheu por decisão própria e destituído de qualquer compromisso financeiro, profissional, social ou educacional. Já nestes exemplos recreativos, as atividades ocorrem dentro de um período que pode ser ou não compromissado.
Gincanas escolares, treinamentos gerenciais ocorrem respectivamente em um horário determinado para a educação ou para o trabalho, por exemplo. Não são horários de lazer. Mas podem também ocorrer vinculados ao lazer, de maneira voluntária e descompromissada. Neste caso, o que diferencia o lazer da recreação é que esta deve ser planejada, ser conduzida ou proposta por um profissional, equipamento ou entidade recreativa, enquanto que aquela pode ocorrer espontaneamente. A recreação é uma vivência intencional, existe um objetivo em sua prática, e este objetivo deve ter sido elaborado por um profissional competente para tal. Este objetivo pode ser intelectual, emocional, social, assim como pode ser a diversão, o entretenimento por si só.
Silveira (2011) observa, ainda, em relação ao lazer, a necessidade de levantar os aspectos do dito "lazer ilícito" que está relacionado a práticas ilegais sob ponto de vista da legislação de um determinado país. No Brasil, por exemplo, o uso de drogas, rachas de automóveis, rinhas de animais, prostituição, jogos de azar, entre outros, são práticas de lazer consideradas ilegais. Apesar de proibidas pela lei do país, são amplamente realizadas por indivíduos, individual ou coletivamente, em todo o território nacional. Estas práticas são voluntárias, ocorrem em um momento da vida não comprometido e visam ao prazer do participante, o que caracteriza atividades típicas de lazer.
Não entraremos aqui em uma discussão moral, ética, política ou legal. Gostaríamos porém de apresentar que este caráter ilícito não permite a caracterização de tais práticas como recreativas, uma vez que não condizem com a proposta de crescimento individual ou social, de revigorar das forças, de revitalizar, que são característicos do trabalho recreativo. Igualmente se tornam incompatíveis com a necessidade de objetivos elaborados por um profissional, que também é essência do trabalho recreativo. Como pode um profissional idealizar, planejar e implementar uma proposta ilícita?
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